Esse conto sempre me faz lembrar que somos mais complexos do que pensamos; acho-o um ótimo alimento para a nossa peça!
Lê
Um fama descobriu que a virtude era um micróbio redondo e cheio de patas. Instantaneamente deu a beber a sua sogra uma grande colherada de virtude. O resultado foi horrível: esta senhora renunciou a seus comentários mordazes, fundou um clube para a proteção de alpinistas perdidos e em menos de dois meses se comportou de maneira tão exemplar que os defeitos de sua filha, inadvertidos até então, passaram ao primeiro plano para grande sobressalto e assombro do fama. Não teve outro remédio senão dar uma colherada de virtude a sua mulher, que o abandonou nessa mesma noite por achá-lo grosseiro, insignificante e completamente diferente dos padrões morais que flutuavam rutilando perante seus olhos.
O fama refletiu largamente e afinal tomou ele próprio um frasco de virtude. Mas continuou da mesma maneira vivendo só e triste. Quando cruza na rua com a sogra ou a mulher, se cumprimentam respeitosamente e de longe. Não ousam sequer se falar, tamanha é a sua perfeição respectiva e o medo que tem de contaminar-se.
ANGÚSTIAS
SINOPSE
“Angustias” traz à cena o mundo dos contos de Anton Tchekhov. É uma clara materialização artística dos sentimentos plasmados nas histórias do autor. Sentimentos que, embora cotidianos, se realizam nas mais delicadas, profundas espontaneidades e surpresas.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Reflexões: Letícia - O inimigo
Eu sou a Letícia e estou desenvolvendo o conto ‘O inimigo’.
Como sou professora, a opção desses pais por deixar a responsabilidade sob a
criança com a babá mexeu muito comigo. Atualmente essa é uma questão muito
presente na sociedade: pais que só se preocupam em fornecer um conforto
financeiro para seus filhos, e acabam esquecendo do afeto, do cuidado, da
proteção.
A personagem que desenvolvo se relaciona de modo muito frio
com os outros personagens, mas na iminência do sumiço de seu filho é que
descobrimos sua humanidade; ao dizer ‘Cadê
meu filho?! Varka, sua peste! Cadê? O que você fez?’ notamos um desespero
de uma mãe que só parece rever suas prioridades quando não há mais tempo de
voltar atrás.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
" A PRIMEIRA PARTE VEM DO AMOR E A SEGUNDA, DO AMOR TAMBÉM."
A partir da proposta do André......Meu nome é Aretta, estou fazendo o conto O INIMIGO e ele me chamou a atenção por que não vejo o assassinato do bebê como uma brincadeira de criança, a Varka mata a criança por que assim como ela o bebê não consegue dormir e a morte pra ela é dormir, ela gosta do bebê e por isso o mata.
Acho importante dividir o que vivi na ultima aula:
Tivemos uma conversa sincera, como sempre, o João estava no mesmo lugar que todos os outros naquela roda, e pedia por mais de nós. O processo vinha se bloqueando.
Tive essa sensação no ensaio de domingo me sentia assim, angustiada por estar preza em meus fantasmas. Por não conseguir cantar. Me senti pressionada tinha que fazer aquilo rápido e acabava sempre estabanando a cena, o que não tinha entrega ao personagem.
Em meio a conversa chorei desesperadamente, por sentir algo que eu não podia explicar e não acho que seja culpa, como a Silvia me disse depois, talvez não dei tudo de mim mais vinha trabalhando os meus pensamentos e o meu corpo e principalmente a minha alma para isso.
Momentos depois da roda eu e a Letícia estávamos com a mesma sensação, despertamos para a mesma necessidade do pai que perde o filho, sentimos uma necessidade incontrolável de falar, de contar o que sentíamos, para o João ou para um dos assistentes, talvez tivessem respostas, mas não.
O João e a Silvia nos incentivou a fazer a cena mesmo que não conseguíssemos achar sentido, e a angustia continuava. Era um processo muito maior que descobriríamos juntas.
Fui pra casa muito pensativa e a Letícia me enviou essa frase no Facebook :, "E a complexidade de uma angústia despertada em mim torna-se impossível de ser compreendida - com Aretta Darelli"
E eu respondi: Complexidade que se divide com o medo de não viver a verdade. Se não for verdade não é nada!
A Leticia concluiu com a seguinte frase, e eu acredito nela:
"'Com a arte de um verdadeiro mestre, Tchékhov sabe matar as
mentiras cênicas, interna e externa, com uma verdade artística bela e
autêntica. Neste caso ele é muito exigente em seu amor pela verdade. Ele não
precisa das vivências banais diárias, que nascem na superfície da alma, nem
das sensações desgastadas que inclusive deixamos de notar e perderam
completamente a sutileza. Procura a sua verdade nos climas mais íntimos, nos
recantos mais sagrados da alma. Essa verdade inquieta pelo que tem de
surpreendente, pela relação misteriosa com o passado esquecido, com o
pressentimento inexplicável do futuro, com uma lógica especial da vida que
parece ridicularizar e zombar maldosamente das pessoas, colocando-a num
impasse ou rindo delas. Todos esses estados de alma, pressentimentos,
insinuações, cheiros e sombras dos sentimentos intraduzíveis em palavras partem
do recôndito da nossa alma e ali entram em contato com as nossas grandes
vivências: as sensações religiosas, a consciência social, o sentido supremo
da verdade e da justiça, a tendência curiosa da nossa razão para os mistérios
do ser. É como se esta região estivesse impregnada de substâncias explosivas,
bastando apenas que a nossa impressão ou lembrança toquem como uma fagulha essa
profundidade para a nossa alma explodir e arder em sentimentos vivos.'"
Espero que minha angustia e da Letícia possa agregar para a reflexão do grupo. Só entendi o que o Tchékhov diz por que na aula passada senti de verdade a angustia e é isso que as pessoas na apresentação tem que sentir, pra isso acontecer tem que ter verdade e entrega. Aretta Dareli - Conto: O INIMIGO |
O Ator - Tadeusz Kantor
Meus amigos ...
Texto lido por João Otávio na última aula, acho importante registrarmos esse momento do nosso processo e recorrer a esse texto sempre que necessário. Beijos.
Texto lido por João Otávio na última aula, acho importante registrarmos esse momento do nosso processo e recorrer a esse texto sempre que necessário. Beijos.
- O ATOR
- retrato nu do homem,
- exposto a qualquer transeunte,
- silhueta elástica.
- O ator,
- forasteiro,
- exibicionista desavergonhado,
- simulador fazendo demonstração de lágrimas,
- de riso,
- de funcionamento
- de todos os órgãos,
- dos vértices do espírito, do coração, das paixões,
- do ventre
- do pênis,
- o corpo exposto a todos os estimulantes,
- todos os perigos
- e todas as surpresas;
- engodo,
- modelo artificial de sua anatomia
- e de seu espírito,
- renunciando à dignidade e ao prestígio,
- atraindo os desprezos e os escárnios,
- tão perto das lixeiras quanto da eternidade,
- rejeitado pelo que é normal
- e normativo em uma sociedade.
- exposto a qualquer transeunte,
- silhueta elástica.
- O ator,
- forasteiro,
- exibicionista desavergonhado,
- simulador fazendo demonstração de lágrimas,
- de riso,
- de funcionamento
- de todos os órgãos,
- dos vértices do espírito, do coração, das paixões,
- do ventre
- do pênis,
- o corpo exposto a todos os estimulantes,
- todos os perigos
- e todas as surpresas;
- engodo,
- modelo artificial de sua anatomia
- e de seu espírito,
- renunciando à dignidade e ao prestígio,
- atraindo os desprezos e os escárnios,
- tão perto das lixeiras quanto da eternidade,
- rejeitado pelo que é normal
- e normativo em uma sociedade.
- Ator
- que vive unicamente
- no imaginário,
- levado a um estado de insatisfação crônica
- e de insaciabilidade perante tudo
- aquilo que existe realmente,
- fora do universo da ficção,
- que o compele
- a uma nostalgia perpétua
- constrangendo-o
- a uma vida nômade.
- Ator forasteiro,
- eterno errante
- sem lar nem lugar,
- buscando em vão o porto,
- carregando em suas bagagens
- todo o seu bem,
- suas esperanças, suas ilusões perdidas,
- o que é sua riqueza
- e sua carga,
- uma ficção
- que ele defende zelosamente até as últimas conseqüências
- contra a intolerância de um mundo indiferente.
- levado a um estado de insatisfação crônica
- e de insaciabilidade perante tudo
- aquilo que existe realmente,
- fora do universo da ficção,
- que o compele
- a uma nostalgia perpétua
- constrangendo-o
- a uma vida nômade.
- Ator forasteiro,
- eterno errante
- sem lar nem lugar,
- buscando em vão o porto,
- carregando em suas bagagens
- todo o seu bem,
- suas esperanças, suas ilusões perdidas,
- o que é sua riqueza
- e sua carga,
- uma ficção
- que ele defende zelosamente até as últimas conseqüências
- contra a intolerância de um mundo indiferente.
Tadeusz Kantor
terça-feira, 5 de junho de 2012
Reflexões: Juliana - A Corista
Eu, Juliana, estou desenvolvendo com a Camila o conto "A Corista". Esse foi um dos contos que chamou minha atenção desde o começo, pelo fato de não deixar clara a intenção de uma das personagens ao confrontar a outra, e a da outra ao se deixar 'conduzir' pela primeira. Nós vivemos em uma sociedade tão nociva, ativa e passiva, ingênua e dissimulada, tudo ao mesmo tempo, que acabamos nos perdendo facilmente mesmo quando estamos no caminho correto. Mas qual o caminho correto? Ele existe?
Esse conto me levou a tantos outros questionamentos... como nos relacionamos com os outros, como nos posicionamos, o que de fato levamos em consideração ou não, o que estamos escondendo, o que realmente buscamos? Qual vulneráveis estamos ou até que ponto nos fechamos? Existe uma hora certa pra deixarmos o muro que nos protege cair? Devemos deixá-lo cair, ou sequer deveríamos tê-lo construído?
A minha personagem então me toca de uma forma muito particular: ela tem muitas das mesmas perguntas que eu tenho. Quem sou eu, e o que eu quero? Como os outros me veem, como eu quero que me vejam? Existe toda uma construção em volta de mim mesma, mas que protege o que, de fato? Há algo que eu quero proteger ou esconder?
... e perceber que um conto de duas páginas traz tantas reflexões me assusta, me encanta, me engaja, me encoraja.
Esse conto me levou a tantos outros questionamentos... como nos relacionamos com os outros, como nos posicionamos, o que de fato levamos em consideração ou não, o que estamos escondendo, o que realmente buscamos? Qual vulneráveis estamos ou até que ponto nos fechamos? Existe uma hora certa pra deixarmos o muro que nos protege cair? Devemos deixá-lo cair, ou sequer deveríamos tê-lo construído?
A minha personagem então me toca de uma forma muito particular: ela tem muitas das mesmas perguntas que eu tenho. Quem sou eu, e o que eu quero? Como os outros me veem, como eu quero que me vejam? Existe toda uma construção em volta de mim mesma, mas que protege o que, de fato? Há algo que eu quero proteger ou esconder?
... e perceber que um conto de duas páginas traz tantas reflexões me assusta, me encanta, me engaja, me encoraja.
Assinar:
Postagens (Atom)